Por: Ricardo Lopes
Farmacêutico: a linha da frente na comunicação com o doente, o indivíduo que presta auxílio de forma imediata evitando horas de espera intermináveis nas urgências, mas que muitas vezes, é confundido como um mero vendedor que tem como obrigação vender qualquer tipo de fármaco independentemente da necessidade de receita médica.
Hoje, dia 26 de Setembro, celebra-se o Dia Nacional do Farmacêutico e qual a melhor forma de comemorar este dia, senão com um testemunho de um ex-aluno da nossa faculdade?!
Com o testemunho do Jorge Honda, conseguirás ter a noção do dia a dia de um Farmacêutico em Farmácia Comunitária e quais os desafios a que somos propostos diariamente.
Testemunho: Jorge Honda
Olá! Eu sou o Jorge, tenho 25 anos e sou farmacêutico comunitário há pouco mais de 2 anos. Desde então, armo-me com uma bata branca, conhecimento e paciência, e sigo para 8 horas de muito mais do que apenas “vender caixinhas” e “aturar velhotes” – embora às vezes isto também esteja incluído. Apesar da rotina que um quotidiano de trabalho implica, cada utente que me chega ao balcão é uma autêntica caixinha de surpresas. Esta pequena grande incerteza garante que a monotonia não seja uma das queixas que terei para apresentar neste breve testemunho.
As farmácias comunitárias são, por norma, pequenas empresas e esta aparente limitação tem vindo a permitir o meu crescimento em áreas que à partida nunca veria como “passíveis de serem desenvolvidas” em farmácia comunitária. A organização das funções neste ambiente de mais proximidade permite aos vários colaboradores aprimorarem-se e experimentarem as suas várias áreas de interesse dentro do vasto universo de uma farmácia comunitária. Uma pessoa pode enveredar por uma vertente mais comercial e de compras, especializar-se na manipulação galénica , debruçar-se sobre estratégias de marketing ou em consultas de acompanhamento farmacoterapêutico, tudo num só espaço, numa única empresa.
Eu tenho a sorte de ser muito feliz no meu trabalho, no entanto, isso não significa que não haja situações menos agradáveis. O atendimento ao público por si só já é um desafio. É psicologicamente drenante estar disponível e conceder a cada utente o atendimento personalizado que ele merece. Para além disso a falta de medicamentos nas farmácias transforma simples aquisições de produtos em autênticas batalhas contra distribuidores e laboratórios. O que poderia estar resolvido em minutos por vezes se arrasta por dias ou até mesmo semanas quando as requisições são coisas tão básicas quanto “preciso de uma embalagem deste produto para hoje à tarde”. Nestas situações, a compreensão por parte do utente nem sempre existe. Qualquer pessoa fora da área não percebe o funcionamento do circuito de distribuição dos medicamentos. Ir à farmácia e não obter o medicamento é inconcebível na cabeça da maioria. É uma quebra na relação de confiança que precisa existir entre o utente e o farmacêutico, e que na minha opinião é o alicerce onde assenta a função do farmacêutico comunitário.
Para mim, ser farmacêutico comunitário é ser isto tudo e mais umas coisinhas. É ser um psicólogo, um amigo ou um carrasco quando é necessário. É ter a saúde de outrem nas mãos e garantir que essa pessoa sai da farmácia pelo menos mais aliviada do que quando entrou, e com a consciência de que ali encontrou profissionais em quem pode confiar e com quem pode contar para fazer uma primeira triagem quando as urgências estão lotadas e as consultas médicas demoram meses a ser marcadas. É intervir diretamente na vida das pessoas, é ter a capacidade de mudá-la para melhor, de aliviar o sofrimento nem que seja com uma palavra de conforto. É instruir. É chamar a atenção. É adequar os conhecimentos e ensinar a diferença entre um Brufen e um Ben-u-ron. É ser muitas vezes a porta de entrada para os cuidados de saúde. É aturar e ser aturado, e, muito ocasionalmente, vender uma caixinha de paracetamol “só pra ter lá em casa” porque não dá pra salvar o mundo em todos os atendimentos. Somos só farmacêuticos, ninguém é um super-herói.