Por Trás da Doença: Alzheimer

Por: Simaura Faria

A Doença de Alzheimer foi pela primeira vez identificada em 1901, pelo alemão Alois Alzheimer e foi, até 1977, associada à idade sendo apenas diagnosticada em indivíduos na faixa etária dos 45 aos 65 anos. 

São pequenas mudanças como a perda de memória, dificuldade de raciocínio e alterações de humor e comportamento que dão início à doença, mas com o tempo tornam-se graves e prejudicam o dia a dia da pessoa. Estes pacientes exigem um cuidado contínuo e muito atento, tornando a vida de um cuidador muito diferente. 

Nesta edição da rubrica Por Trás da Doença, trazemos-te o testemunho da cuidadora Elisabete Craveiro, a quem agradecemos imenso pela partilha.

 

Testemunho: Elisabete Craveiro

“O meu nome é Elisabete Craveiro e sou cuidadora de uma senhora com Alzheimer há  cerca de  20 anos. 

Numa fase inicial, a senhora começou por ter atitudes muito estranhas, perdendo as suas capacidades mentais em episódios mais isolados. No entanto, muitas vezes recusava ajuda e revoltava-se por ser constantemente vigiada. 

Nesta fase, ainda não muito desenvolvida, conseguia andar sem problemas e raciocinar normalmente, mesmo com alguma dificuldade, sendo necessário estar sempre atenta para evitar situações perigosas como perder-se ou fazer alguma asneira, visto que a qualquer momento poderia esquecer-se de onde estava ou não distinguir o certo do errado, entre outras. 

Por exemplo, uma vez num jantar em casa de familiares na aldeia, levantou-se para ir fumar um cigarro e durante este ato esqueceu-se de onde estava, não reconheceu o local e começou a fugir com o objetivo de chegar a casa. Passados poucos minutos de não regressar de fumar reparámos que tinha fugido e saímos à procura dela pelas estradas e pela mata. Felizmente foi encontrada por uns vizinhos, já a uma distância considerável de onde tinha saído. 

Atualmente, o estado da doença está mais grave. Tem alguma dificuldade em mover-se necessitando de alguns apoios, falar com ela é quase como falar para o vazio e tenho de ser muito insistente. Lembra-se de algumas coisas do passado que a marcaram, mas do presente não se recorda, mesmo das coisas que ocorreram há minutos. Chega a perder-se em percursos curtos e longos, como do quarto para a sala ou do quarto para o wc. Não tem noção do sítio onde está para fazer necessidades fisiológicas, por exemplo se sanita estiver tapada, faz no bidé. Também não consegue tomar banho sozinha por isso dou-lhe banho. Come sem controlo. Uma vez servi-lhe um prato de sopa, deixei-lhe o resto da panela na mesa também e disse-lhe “olha eu volto já, come a sopa e se quiseres mais, tira um bocadinho”. Passado pouco tempo, quando regressei, tinha comido a panela toda e achava que não tinha comido. Não gosta nada de ser chamada à atenção e por vezes trata-me mal ou agride-me. 

É preciso ter muita paciência e muito carinho porque é como cuidar de uma criança novamente. É um trabalho esgotante, deixamos de ter vida própria pois requer vigilância e cuidados 24 horas, senão fazem coisas impensáveis.”

 

Ser cuidador, de qualquer paciente, nunca é fácil. No caso da Doença de Alzheimer existem diversos grupos de apoio, que pretendem facilitar e dar motivação a estes cuidadores, bem como aos familiares e amigos do paciente. Podes ver mais sobre este assunto aqui